domingo, 13 de dezembro de 2009

Carros são caros porque...

...nós estamos dispostos a pagar. Tays sempre me diz que um pedaço do meu genoma é dedicado a carros. Eu estou sempre olhando pra eles, dirigindo, lendo, tirando fotos, assistindo a corridas. Uma coisa que me intriga no Brasil é que os carros aqui são absurdamente caros, e as pessoas parecem comprar as piores opções pelos motivos totalmente errados.

Não entendo nada de produção e tributação em indústrias, então vou correr um risco enorme de estar errado na Internet e fazer um exercício: pense num carro bem sucedido em vendas no Brasil, que também existe nos EUA: pense no Honda Fit. Ótimo carro, certo? Super bonitinho, interior bacana. Todo mundo adora. Quanto ele custa?

Pra não dizerem que estou pegando no pé do Fit, segundo a conta que eu faço abaixo o meu carro, o Ford Focus, é uma escolha pior, embora ele seja mais barato.

Nos Estados Unidos, um Honda Fit custa pouco menos de $15.000,00. A versão mais barata dele tem air bags duplos frontais e laterais, freios ABS, um motor de 117 cavalos e mais uma porção de outras coisas. Quando você chega à loja tem que pagar aquele imposto na hora da compra que não chega a 10%, mas vamos lá: acho que você consegue comprar um Fit nos EUA por US$16.500,00, ou menos de R$29.000,00 com o dólar a R$1,75. Ah, e mais um detalhe: esse carro não é produzido nos EUA, ele é importado do Japão lá.

E no Brasil? O site da Honda no Brasil (PQP, que ideia horrorosa é essa de fazer o visitante montar um vídeo com sete trailers pra conseguir entrar num site???) mostra que a configuração mais barata do Fit no Brasil tem 100 cavalos, air bags frontais, e não é possível tê-lo com freios ABS, nem como opcional. Você tem que comprar outra versão se quiser isso, sinto muito. O preço? No sudeste, R$52.960,00. Sou preguiçoso e vou confiar em uma notícia que li um tempo atrás, que dizia que impostos no Brasil somam 40% do valor do carro: o valor de verdade do carro é de menos de R$32.000,00, ou US$18.285,00.

Ou seja, nós pagamos mais de 20% a mais no Brasil por um carro pior, e ainda assim vejo conhecido atrás de conhecido feliz da vida por ter comprado um excelente carro por um preço "razoável".

Nesse ponto eu já estou escrevendo só pra mim mesmo porque já magoei todos os meus amigos donos de Fit, então vou ser mais reclamão: que diabo de idéia é essa de fazer agora carros populares com câmbio automático? Porque é que câmbio automático é mais importante do que air bags laterais, e até frontais, e freios ABS? Hoje em dia é possível comprar um VW Gol com câmbio semi-automático estilo F1, com borboletas atrás do volante, sem ABS ou air bags.

Eu acho que a maioria de nós não compra carros como meio de transporte, e sim como regalias, itens de luxo e ostentação - e pra uma regalia, quanto mais enfeite, melhor. E é por isso que as montadoras conseguem empurrar no mercado combinações absurdas de especificações a preços altos, e ainda vender bem.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Você precisa vir aqui, sua faxineira está presa do lado de fora da janela"

Trabalhando hoje recebi uma ligação de um número que não conhecia. Quando atendi, era o síndico, que dizia:

"Você precisa vir aqui no seu apartamento, aconteceu uma coisa muito grave. A faxineira está presa do lado de fora da janela."

Expliquei pra ele que ia demorar pelo menos meia hora pra chegar em casa e falei pra ele arrombar a porta, corri pra rua e peguei um táxi. Quarenta minutos depois chego em casa, e ela está vazia. "Ou ela caiu e foi pro hospital, ou tá na casa do síndico". Desci até o apartamento do síndico e ela estava mesmo lá, devidamente abastecida de água com açúcar e café - aparentemente os efeitos não se anulam.

As janelas do apartamento correm lateralmente e ela disse que se enfiou pro lado de fora pra limpar o canto, e quando passava o pano molhado acabou empurrando de volta a parte corrediça, que chegou ao trinco e se fechou. Ela começou a gritar e os vizinhos de fundo acabaram chamando os bombeiros, que a resgataram com uma escada; o síndico não teve colhões pra arrombar a porta. A primeira instrução que os bombeiros deram a ela foi "não pula!", que eu achei bastante sensata, mas desnecessária.

Uma vez eu tinha visto em frente ao trabalho uma mulher no último andar de um prédio alto de pé do lado de fora da janela com um rodo em mãos, limpando a janela, e pensei "nossa, como é que a obrigam a fazer isso?". Não consigo decidir se eu fico mais espantado com alguém tê-la pedido (mandado?) fazer isso ou com o fato de ela ter aceitado.

Mas pra Val eu tenho certeza de que nós não pedimos isso. Pedimos, sim, que ela limpasse as janelas, mas eu achava que "tente não se matar no processo" era uma recomendação tão óbvia quanto o "não pula!" do bombeiro, e que não precisava ser feita.

domingo, 16 de agosto de 2009

A tranquilidade está logo ali

Torsten uma vez comentou sobre como dá pra encontrar silêncio e tranquilidade bem perto de Belo Horizonte. Tays e eu fomos um pouco mais longe, no fim de uma das trilhas mais longas do Parque Nacional da Serra do Cipó, mas também encontramos.

Andar pelo mato com a esposa tem tudo pra dar errado: dois semi-sedentários seguindo uma trilha longa sem muita indicação, se irritando um com o outro, correndo o risco de se perder, sem saber muito bem o que se vai encontrar no fim da trilha, se a água vai dar, quantos riachos é necessário atravessar. E nós nos irritamos bastante no caminho de ida.

O Cânion dos Bandeirinhas fica a 12km da entrada do parque, e a trilha é mais difícil do que as outras que já tínhamos feito por lá. Por ser tão longe, decidimos fazer o caminho de bicicleta. Fomos em um dia de semana, e o parque estava bem vazio. Gastamos mais de duas horas pedalando na ida, com algumas interrupções pra beber água, tirar fotos, carregar bicicletas através de riachos.

Encontramos apenas mais um ciclista, que estava indo pra outro lugar no parque, e um casal a cavalo. O sujeito queria fazer um filme cavalgando sem camisa, provavelmente pra postar no orkut, e a moça, que não tinha muito controle do cavalo, deixou cair a câmera. Depois de entregar a ela a câmera, ficamos um tempinho procurando pela bateria até ouvir um sonoro "sua burra, por que não colocou a cordinha no braço?" e irmos embora, deixando votos de boa sorte.

No caminho se atravessa um punhado de riachos, e há vários trechos de areia fofa em que é preciso carregar a bicicleta. A rotina pedala-dez-metros-desce-carrega-a-bicicleta-20-enfia-o-pé-no-riacho sem se saber direito a distância do destino e o tempo que gastaríamos pra chegar lá foi desgastando o nosso humor, mas ainda conseguimos nos manter civilizados. Não me lembro de ter chamado a Tays nomes, apesar de ela ser bastante incompetente em manter os pés secos enquanto atravessa riachos.

Chegar ao cânion fez parar toda a nossa irritação e as discussões bestas, porque o ambiente é esse:

Sentado/bebendo água/pensando na vida/servindo de belisquete pros peixinhos

A volta foi mais curta, em parte porque já estávamos confiantes do caminho, em parte porque era descida, e em parte porque a hora que passamos nesse lugar me deu uma tranquilidade que eu não sentia há muito tempo - já estou de férias há duas semanas, e foi só lá que eu finalmente esqueci do trabalho, relaxei e curti só a sensação de estar lá, sem preocupação nenhuma. Eu sou bem cético, mas tenho certeza de que a Serra do Cipó é mágica.


Mais fotos aqui. E se você for fazer uma trilha longa, por mais longa que seja, não vá de bicicleta.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Heptassaltado!

Hoje foi meu sétimo assalto. Eu achava que já tinha crescido dessa fase. E aí comecei a pensar em porque achava isso, e cheguei à conclusão de que eu achava que, quando assaltado, a culpa era minha; eu estava distraído, em lugar perigoso, dando bobeira. Não sem muita surpresa me lembrei que há algum tempo uma colega do trabalho, natural de outra cidade, foi assaltada há um tempo e minha - silenciosa - reação foi "culpa dela, estava distraída, em lugar perigoso, dando bobeira".

Mas culpa minha? Eu faço o caminho do trabalho pra academia , em um dos bairros mais movimentados, centrais, e conhecidos da cidade, pelo menos duas vezes por semana há mais de um ano. Era pouco depois das sete da noite, numa rua bem movimentada, e eu tinha acabado de guardar o telefone (que não me pertence, pertence à empresa em que trabalho) no bolso e atravessei uma faixa de pedestres. Vi cinco homens, alguns de vinte e poucos anos, outros mais novos, vindo em minha direção. Três passaram direto, e aí os outros dois me pediram as horas. Eu disse que estava sem relógio, e eles me cercaram e mandaram tirar o celular do bolso.

E não adianta dizer que "não pode reagir". Mas que diabo, vão me levar a carteira? O telefone que nem é meu? Tentei passar entre os dois e um me imobilizou os braços e pescoço, enquanto o outro, mais novo, tentava puxar carteira e telefone dos meus bolsos. Uns chutes desengonçados pra cá, sacodidas pra lá, muitos gritos esganiçados, e acho que consegui chamar atenção dos carros que passavam, até que começaram a buzinar e um deles parou. Os assaltantes foram embora e eu, indignado, tomei meu rumo. O moço que parou o carro foi bastante atencioso, me ofereceu carona até o posto da polícia ou até o meu destino.

Depois da escalada eu vi que estava neurótico de novo quando ia pro carro - que minha esposa havia estacionado em frente à academia -, como eu era há algum tempo. Eu tinha me acostumado de novo a me sentir tranquilo na cidade, e agora a preocupação voltou. A reação defensiva é de "preciso prestar mais atenção na rua", ou "não posso passar por ali à noite". Mas ali é meu caminho! Vou precisar atravessar a rua quando vir um grupo de pessoas vindo na direção contrária? Ou mudar meus hábitos pra não andar mais à pé, fazer a Tays passar de carro no trabalho pra me pegar? Acho que não vou fazer nada disso...e rumo ao octa!